6 de jun. de 2021

velhos casarões e sobrados

 




nos velhos casarões e sobrados

sombras escondem furtivos encontros

beijos em bocas nunca depositados

abraços mal esboçados

fogos da carne mal apagados

fugidios sustos



sob esconsos telhados e escadas rangentes

passos assustados e voos de pássaros noturnos e soturnos

fantasmas às bulhas com estalidos e ranger de dentes

corações mal amados

sob falsos lençóis escondidos

tracejam no ar os doces suspiros

de tempos escorridos

de tempos perdidos



portas que se abrem e se fecham e rangem

ao vento de nós entupidos

desejos enrustidos

que se abrem e que se fecham e que ranhetam

pelos corredores fendidos

aos passos agora compassados e inúteis



os sobrados e casarões outrora cozidos

em pedra e cal – agora tão volúveis

dissolvem-se no ar

à sombra de suas volutas e arcadas

os desvãos carunchados – dissolvem-se em pó

só os suspiros pelos ventos encanados – suspiros sofridos

de encontros e desencontros em bocas desencantadas

não mais batem os corações – não mais beijos

nem ensejos de abraços enlaçados

suspiram-se apenas vagas falenas e profundas solidões

pelos corredores vazios desses velhos casarões e sobrados



26.9.2020

(Ilustração: Andrea Kowch)



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