nos velhos casarões e sobrados
sombras escondem furtivos encontros
beijos em bocas nunca depositados
abraços mal esboçados
fogos da carne mal apagados
fugidios sustos
sob esconsos telhados e escadas rangentes
passos assustados e voos de pássaros noturnos e soturnos
fantasmas às bulhas com estalidos e ranger de dentes
corações mal amados
sob falsos lençóis escondidos
tracejam no ar os doces suspiros
de tempos escorridos
de tempos perdidos
portas que se abrem e se fecham e rangem
ao vento de nós entupidos
desejos enrustidos
que se abrem e que se fecham e que ranhetam
pelos corredores fendidos
aos passos agora compassados e inúteis
os sobrados e casarões outrora cozidos
em pedra e cal – agora tão volúveis
dissolvem-se no ar
à sombra de suas volutas e arcadas
os desvãos carunchados – dissolvem-se em pó
só os suspiros pelos ventos encanados – suspiros sofridos
de encontros e desencontros em bocas desencantadas
não mais batem os corações – não mais beijos
nem ensejos de abraços enlaçados
suspiram-se apenas vagas falenas e profundas solidões
pelos corredores vazios desses velhos casarões e sobrados
26.9.2020
(Ilustração: Andrea Kowch)
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