1.
um riacho à luz da tarde
- mergulha o menino
e depois – ao sol – a pele arde
2.
o vento de agosto celebra
a pipa vermelha contra o céu azul
de repente a linha se quebra
ou foi quebrada – partiu a pipa para o sul
3.
o cuspe na ponta do capim
- dentro do buraco a aranha espia
um puxão e a bola de pelo e pernas
no meio do quintal olha para mim
4.
no campinho verde os botões em ordem
para o começo do jogo
a mão ágil aperta o centroavante contra a bolinha
mas o gato é mais esperto – impede o gol
5.
roda o pião na terra batida
rola a bolinha de gude para a birosca
bate a bola de capotão na trave tosca
- a terra é redonda, gira e é divertida
6.
na praça a gurizada grita
tiros espocam das armas de espoleta
corre uma mãe aflita
- não foi nada, entre mocinho e bandido
apenas mais uma treta
7.
roda a roda da saia rodada da menina
pisam os pés descalços a terra batida
cantam todos a queda da heroína
aos três cavaleiros prometida
8.
pela janela iluminada o som do piano
vai pouco a pouco crescendo
na rua o menino para: quer ouvir o soprano
- mas a mãe o chama
e ele – que pena! - tem que sair correndo
9.
lua cheia de sexta-feira da paixão
só se ouvem dentro da noite o canto
dos fiéis acompanhando a procissão
- dentro do menino, solidão e espanto
10.
choveu forte durante a tarde toda
a enxurrada desce ao longo da calçada
- os barquinhos de papel atraem a gurizada
levam seus sonhos para o rio – para o nada
11.
a manga madura no galho mais alto
o prazer do sumo numa só pedrada
- mas o sabiá foi bem mais esperto
do outro lado a fruta está toda bicada
12.
sentado na cadeira as pernas do menino
balançam no ar – espera o cozinhar do feijão
embaixo o lacrau também espera – clandestino
e pica talvez frustrado o focinho do cão
7.4.2021
(Ilustração: Cândido Portinari)
Nenhum comentário:
Postar um comentário