24 de jun. de 2021

vivemos

 



abrir um vinho

e espremer a garrafa até a última gota

para celebrar a vida

a vida e seus mistérios múltiplos

seus mistérios e enredos

nas nuvens que se dissolvem em gotas

na gota que se solidifica em pedra

na pedra que está sempre no meio do caminho do poeta



anterioridades e posteridades

no lento caminho das estrelas

no antes e no depois da explosão das galáxias

nos rios que correm para o mar

nos rios que correm para o coração

no voo para o nada

no nada que é tudo

no espaço entre elétrons dentro dos átomos



abrir um vinho

e deixar que seu sumo de vida

dentro de mim

refaça lembranças e vivências

entre meus sonhos passados e meus despertares futuros

e celebre a vida no fundo de minhas retinas maltratadas

celebre o rio vivo que corre por meu corpo

para que seja eu a cepa de paladares dissolutos

na certeza de que ela – a vida – não descansa

nem nos deixa esquecer de cada minuto

que vivemos e vivemos e apenas vivemos



29.4.2021

(Ilustração: William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

 - The Youth of Bacchus -1884)

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