abrir um vinho
e espremer a garrafa até a última gota
para celebrar a vida
a vida e seus mistérios múltiplos
seus mistérios e enredos
nas nuvens que se dissolvem em gotas
na gota que se solidifica em pedra
na pedra que está sempre no meio do caminho do poeta
anterioridades e posteridades
no lento caminho das estrelas
no antes e no depois da explosão das galáxias
nos rios que correm para o mar
nos rios que correm para o coração
no voo para o nada
no nada que é tudo
no espaço entre elétrons dentro dos átomos
abrir um vinho
e deixar que seu sumo de vida
dentro de mim
refaça lembranças e vivências
entre meus sonhos passados e meus despertares futuros
e celebre a vida no fundo de minhas retinas maltratadas
celebre o rio vivo que corre por meu corpo
para que seja eu a cepa de paladares dissolutos
na certeza de que ela – a vida – não descansa
nem nos deixa esquecer de cada minuto
que vivemos e vivemos e apenas vivemos
29.4.2021
(Ilustração: William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
- The Youth of Bacchus -1884)
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