27 de jun. de 2021

volúpia da vida

 


 

 

que importa a lua

no alto dos céus

se você está nua

nos braços meus

 

talvez assim devessem começar

todos os poemas de amor

 

na lua o luar

na alcova o encontro

de dois corpos a gozar

 

assim pensam o amor todos o que pensam amar

enquanto o amor na verdade se esconde

em cada gota de suor que pinga do rosto

dos amantes que se esfalfam no gosto

no gosto amargado do gozo que não se sabe de onde

de repente aflora como corrente de preamar

todas as células dos corpos a inundar

no espanto renovado do orgasmo ancestral

que prepara os corpos dos amantes para procriar

 

e não há nenhum luar

e não há nenhum sino a tocar

e não há nenhum deus a condenar

os gestos e anseios bilhões de vezes repetidos

os olhos que se fecham e o gritos reprimidos

 

macho e fêmea

fêmea e macho

um no outro entretecidos

na voragem da morte apetecida

 

apenas dois mundos de células que buscam encontrar

um no outro a visceral volúpia da vida

de se eternizar

 

24.5.2021

(Ilustração: arte erótica japonesa 

- Keisai Eisen (1790-1848) c.1820)

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