3 de jul. de 2022

nostálgica esperança




nas tardes quase frias de outono

fico pensando na primavera



nas noites quase mornas de inverno

fico pensando no verão



nas madrugadas de lua nova

fico pensando no luar da lua cheia



em todos os meus dias de outono ou primavera

em todos os meus dias de inverno ou verão

em todas as minhas noites de breu ou de luar

permanece meu pensamento nesse lusco-fusco

de estar aqui e ao mesmo tempo estar distante

e quase sempre prefiro as sombras noturnas

o ar rarefeito de ventos e brisas suaves

para pensar nos momentos todos de minha vida

para lembrar os amigos todos que já se foram

para entremear minhas nostálgicas memórias

às pegadas que deixei pelos caminhos

aos abraços que troquei e aos beijos que não dei

para sentir dentro de mim que a vida passa

muito mais depressa do que sopra o vento

durante uma tempestade de verão ou de inverno

e mesmo que me insira na nuvem do saudosismo

gosto de pensar que há pela frente ainda mais vida

do que eu um dia pensei que teria

e como sou ateu e não tenho nenhum deus

a quem agradecer uma dádiva que só a vida

- esse bem que às vezes desprezamos – nos dá

olho para o horizonte onde começa a surgir

a primeira estrela da noite

e deixo que o brilho dos meus olhos

reflita o um pouco mais os luares todos

que iluminaram os momentos que já vivi

para sonhar com os momentos que viverei





25.5.2022

(Ilustração: Javier Arizabalo García)

 

 

 

 

 

 

 

 

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