nas tardes quase frias de outono
fico pensando na primavera
nas noites quase mornas de inverno
fico pensando no verão
nas madrugadas de lua nova
fico pensando no luar da lua cheia
em todos os meus dias de outono ou primavera
em todos os meus dias de inverno ou verão
em todas as minhas noites de breu ou de luar
permanece meu pensamento nesse lusco-fusco
de estar aqui e ao mesmo tempo estar distante
e quase sempre prefiro as sombras noturnas
o ar rarefeito de ventos e brisas suaves
para pensar nos momentos todos de minha vida
para lembrar os amigos todos que já se foram
para entremear minhas nostálgicas memórias
às pegadas que deixei pelos caminhos
aos abraços que troquei e aos beijos que não dei
para sentir dentro de mim que a vida passa
muito mais depressa do que sopra o vento
durante uma tempestade de verão ou de inverno
e mesmo que me insira na nuvem do saudosismo
gosto de pensar que há pela frente ainda mais vida
do que eu um dia pensei que teria
e como sou ateu e não tenho nenhum deus
a quem agradecer uma dádiva que só a vida
- esse bem que às vezes desprezamos – nos dá
olho para o horizonte onde começa a surgir
a primeira estrela da noite
e deixo que o brilho dos meus olhos
reflita o um pouco mais os luares todos
que iluminaram os momentos que já vivi
para sonhar com os momentos que viverei
25.5.2022
(Ilustração: Javier Arizabalo García)
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