o estranho que habita em mim me diz coisas que não compreendo
sonha os sonhos que eu não quis sonhar
desbrava memórias que não mais me pertencem
descobre falsos tesouros de piratas amordaçados em minha mente
escreve poemas antigos com métricas parnasianas e rimas ricas
e esconde de mim minhas verdadeiras emoções
de tal forma que às vezes não sei se amo ou odeio
e como um amálgama de mim mesmo
uma cópia borrada que a impressora não completou
fico sem saber se sou eu mesmo a caminhar sozinho pelas ruas
ou se é minha sombra a ganhar vida e a abandonar-me para seguir esse estranho que escamoteia meus sentimentos
ou se sou eu mesmo a caminhar pelas estradas poeirentas de montanhas desconhecidas
a mendigar um horizonte que me acolha
se amaldiçoo o estranho que em mim habita e comigo divide uma vida que já não sei se é minha ou se é dele
a mim mesmo me amaldiçoo
e choro por ele as lágrimas que jamais choraria por mim
4.3.2002
(Ilustração: Salvador Dalí)
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