11 de ago. de 2017

confissão





(Brigitte Bardot - foto de a. não identificado)




quando criança sonhava em poder assistir

à diva nua no escurinho do cinema



quando o sonho enfim se quebrou

nas pedras de ruas tortas

e no asfalto de tantas estradas mortas

descobri o que sou

e de mim não tive pena



resta o sonho sempre

mesmo agora quando espero

que se recupere o meu juízo

e que sábio o velho de outrora

seja hoje o menino

que sonhava por pernas nuas



não tenho medo do que ainda me resta

desde que a vida me mostrou

que tudo o que me disseram não presta

se o sonho que ainda sonho se afogou



não importa o tempo de estrada

porque tudo o que ficou

resume-se a uma dor antiga

por uma pedrada que um dia

acertou um bem-te-vi

e tudo o que sou se resume a consertar

todas as dores que infligi

não só calando o pássaro da mangueira

mas principalmente calando em mim

a voz da vida sem eira nem beira

que - eu mesmo jurei para mim -

um dia eu teria



sei no entanto que tudo o que a vida dá

a estrada come

e tanto aqui como acolá

no mundo do sonho ou da razão

todos os homens querem que se tome

a vida pelo cabresto

como os bois no carro a gemer



e se o menino se encantava no cinema

com as pernas de uma loira qualquer

não vai ser esse novo jovem que teima

em tomar a voz da razão pela voz do voo

que irá reconstruir caminhos que não trilhei



porque ainda que o sonho venha em trapos rotos

tenho ainda e sempre por tudo o que do mundo arrastei

a força profana de uma floresta de brotos




2.2.2014



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