18 de ago. de 2017

obsolescência





(Salvador Dalí)



gosto de coisas duráveis

a obsolescência dá sobrevivência

a esse capitalismo que nos sufoca



gosto das coisas utilizáveis

à margem do tempo e do gasto



a obsolescência é a ferrugem do capitalismo

ferrugem que nos corrói por dentro

enquanto faz girar a roda dentada

que nos esmaga e transforma em rio vermelho

nossas possíveis esperanças de dias melhores



gosto das coisas duráveis

dos objetos que mantêm o brilho e a funcionalidade

além muito além das necessidades dos engravatados



odeio a ferrugem fabricada e inserida

em tudo quanto compramos e utilizamos

para a feliz opressão dos senhores das máquinas



gosto sim das coisas duráveis



das coisas feitas como os ossos que nos sustentam

brancos e puros após anos e anos na terra escura

coisas duráveis como as palavras dos poetas

válidas palavras que nos consolam pela vida

não o lixo fabricado por robôs

com data marcada para voltar ao lixo



gosto das coisas que duram como a vida

gosto das coisas que duram como os versos

gosto das coisas que duram como as palavras



17.7.2017



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