quando te contemplei adormecida
amada
o leito desfeito como um lugar comum
de nossos delírios e desejos
quando te vi ali entre lençóis o corpo desnudo e flébil
vi em ti a minha própria fragilidade exposta
terrivelmente exposta
em tua carne branca a meus instintos oferecida
e já possuída
e vi o quanto sou eu o elo mais tosco e quebradiço
de uma relação nascida dos teus encantos
e então amada então
minhas asas inertes revelaram meus desatinos
ao sentir na pulsação dos teus seios
que minha desesperança pousara em planícies
há muito extintas e lavadas por lavas e fogo
de um vulcão há tanto tempo adormecido
que a devastação de minha alma
fez de cada estertor de teu ventre o meu túmulo
onde depositei somente o meu desespero
e agora eu sou a teu lado enquanto dormes nua e fértil
a ilha perdida no oceano de vidas sem futuro
11.7.2018
(Ilustração: Alyssa Monks)