26 de jul. de 2018

dentro da noite







está gelado dentro da noite

e dentro da noite estou eu

o meu corpo a minha mente

estão os meus sonhos

congelados dentro da noite

ao vento que sopra do sul

às gotas de geada que caem

de plúmbeas nuvens carregadas

não há caminhos nem lumes

a grota negra engole meu futuro

a cada passo no charco infecto

tenho a consciência do desespero

mas não me desespero

os meus olhos estão frios e mortos

meus passos autômatos me levam

cada vez mais para o abismo

sei que sonho embora acordado

sei que penso embora inutilmente

os desencantos congelam minhas veias

mais que o frio gélido da noite

espero um sol mas sei que a alvorada

nunca mais chegará nesta grota profunda

onde minhas lágrimas empedradas

rolam para o fundo e pavimentam a descida

na qual ferirei as solas de meus pés

deixarei minha pele e minha carne

gastarei até o último instante as unhas

de minhas mãos a cavar a terra podre

e talvez numa outra noite ainda mais negra

atinja no fundo o inferno de mim mesmo







6.6.2018



(Ilustração: Zdzisław Beksiński)




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