está gelado dentro da noite
e dentro da noite estou eu
o meu corpo a minha mente
estão os meus sonhos
congelados dentro da noite
ao vento que sopra do sul
às gotas de geada que caem
de plúmbeas nuvens carregadas
não há caminhos nem lumes
a grota negra engole meu futuro
a cada passo no charco infecto
tenho a consciência do desespero
mas não me desespero
os meus olhos estão frios e mortos
meus passos autômatos me levam
cada vez mais para o abismo
sei que sonho embora acordado
sei que penso embora inutilmente
os desencantos congelam minhas veias
mais que o frio gélido da noite
espero um sol mas sei que a alvorada
nunca mais chegará nesta grota profunda
onde minhas lágrimas empedradas
rolam para o fundo e pavimentam a descida
na qual ferirei as solas de meus pés
deixarei minha pele e minha carne
gastarei até o último instante as unhas
de minhas mãos a cavar a terra podre
e talvez numa outra noite ainda mais negra
atinja no fundo o inferno de mim mesmo
6.6.2018
(Ilustração: Zdzisław Beksiński)
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