abro a janela e o sol espanta a noite
de dentro de meu quarto
não de dentro de mim
leio até me lacrimejarem os olhos
os poetas loucos e os loucos poetas
não adianta
esfrego vigorosamente o chão
e deixo-o limpo de toda a sujeira
também não adianta
ingiro o que dizem ser a droga da felicidade
e espero um sorriso no rosto
mas ele não vem
à noite que ameaçava eternizar-se dentro de mim
peço então que se vá embora ao som de um tango
ao som de um tango bem marcado e bem tangado
e um tango bem tangado reorganiza enfim
uma a uma as sinapses de meu cérebro
e as asas do anjo torto que em mim habita
não se derretem mais ao calor do sol
não não se derretem mais não se derretem
pelo menos por um tempo de voo
por um tempo de voo que me permita
pousar no galho de uma mangueira em flor
9.6.2018
(Ilustração: Odires Mlazho)
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