a realeza toda fica em festa
quando um príncipe se casa
e o povo que é feito de besta
nem se dá conta de que é ele
quem paga a conta da mordomia
sustentando uma aristocracia
que come e bebe e viaja e dança
e se diverte e prolifera
e nunca trabalha na vida
tudo à custa do suor dos tais súditos
que verão de longe a bela festa
sem poder nem cheirar nem provar
um só doce da grande comilança
então proponho que quando um príncipe
de qualquer nobreza nojenta e decadente
faz festa de casamento em seu castelo
que todo o povo possa cantar e dançar
não de alegria e de contentamento
mas a dança de guerra de bravos guerreiros
e todos – homens e mulheres e outros gêneros –
possam invadir a tal festa de casamento
rasgar o vestido da noiva
jogar para os gansos no lago o buquê
e prender o príncipe bem no alto
de uma torre como antigamente fazia
com seus inimigos a própria nobreza
e beber toda a beberagem destinada
aos poucos convidados escolhidos
e comer os docinhos requintados
e embrulhados como se fossem balas
do camelô ali da esquina
e chutar todos os traseiros
dos guardas empenachados
soltar dos arreios os cavalos
botar fogo no coche real
mijar na mitra do cardeal
pisar nos arranjos florais
subir nos altares e pisar no calo
dos músicos e cantores reais
pregar pregos nos assentos
da tal nobreza agora assustada
e fazer dançar a corte imperial
ao som de batuques bem batucados
entoar seus hinos de liberdade
no lugar dos cantos nupciais
quebrar bem quebrados os protocolos
de tal forma que nunca nos assombrem
e exilar para uma ilha bem distante
a rainha mãe e o rei já quase gagá
condenados para sempre a trabalhar
para pagar o que comem e consomem
e assim no casamento do tal príncipe
que não haja mais plebeus ou nobres
nem tronos nem coroas de brilhante
porque quando se casa um príncipe
é a hora da vingança do povo esquecido
dessa gente que vive e se lambuza
do sangue e suor do povo
que eles sempre pisotearam
17.5.2018
(Ilustração: Nancy Farmer - royal wedding)
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