acendo um poema em outro poema
como quem acende um cigarro no outro
ana martins marques
estou preso ao poema
não
não estou preso ao poema
estou preso aos poemas
são muitos
tecem em torno de mim uma cadeia
prendem-me atrás de suas grades
versos que não são versos
decassílabos falsos e alexandrinos sem nenhuma vergonha
de não serem alexandrinos
não importa
tenho-os para mim como vício
escrevo-os apenas
e nem sei muito bem às vezes
o que eles querem dizer
escrevo-os
encadeados enleados enraizados
todos todos todos
emaranhados uns nos outros
no terreno pedregoso de minha inspiração
ou seja lá o que isso se chama
essa chama esse comichão
de escrever tortos pensamentos
em versos retos ou retos pensamentos
em versos tortos
assim sobrevivo à minha própria vida
e não morro a minha própria morte
escrevo-os escravo que sou
18.9.2018
(Ilustração: Marc Chagall)
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