4 de out. de 2018

cadeia







acendo um poema em outro poema 

como quem acende um cigarro no outro 


ana martins marques 



estou preso ao poema

não

não estou preso ao poema

estou preso aos poemas

são muitos

tecem em torno de mim uma cadeia

prendem-me atrás de suas grades

versos que não são versos

decassílabos falsos e alexandrinos sem nenhuma vergonha

de não serem alexandrinos

não importa

tenho-os para mim como vício

escrevo-os apenas

e nem sei muito bem às vezes

o que eles querem dizer

escrevo-os

encadeados enleados enraizados

todos todos todos

emaranhados uns nos outros

no terreno pedregoso de minha inspiração

ou seja lá o que isso se chama

essa chama esse comichão

de escrever tortos pensamentos

em versos retos ou retos pensamentos

em versos tortos

assim sobrevivo à minha própria vida

e não morro a minha própria morte

escrevo-os escravo que sou






18.9.2018


(Ilustração: Marc Chagall)






Nenhum comentário:

Postar um comentário