que brilhe a lua
apagando estrelas
que brilhe a lua
para todos que amam
que hoje estou apaixonado
e sentimental pra diabo
bebericando uma boa branquinha
sentindo de novo um pouco
das paixões de outrora
sem pensar que estou agora
muito mais só do que jamais estive
e esse sentimentalismo bobo
que em mim vive e sobrevive
não passa de um jogo de cena no teatro
que enceno para mim mesmo
no meio da noite de lua branca
e por isso escrevo versos tolos como este
que brilhe a lua
apagando estrelas
e outras bobagens dos tempos de paixões
quando o coração não era apenas
a bomba num peito murcho
mas pulsava ao som de valsas
curtindo a noite em solidão profunda
os espaços todos de meu pensamento
preenchidos não de dor ou desapontamento
mas apenas de desalento e desconfianças
a vida a tecer tramas ao meu redor
nas quais me enredo para fugir de mim
eu o estranho a beijar a lona
da luta inglória pela sobrevivência
a carne em fogo na trempe quase fria
dentro da noite os passos trêfegos
em becos sujos que terminam em muros negros
a esperança em trapos e os pés feridos
que brilhe a lua
não importa mais que ilumine estradas
não importa mais que reflita pupilas acesas
a lua continua seu caminho
e o poeta apenas bebe o cálice de sua paixão
(e isso é só mais uma bobagem que escrevo)
e chora por si mesmo sem que saiba
que não há lugar no mundo para seus versos
nem para seus uivos à lua que brilha
numa noite torpe sobre a cidade vazia
de amores advindos e amores findos
flores e pedras de delírios que a lua
no céu de mármore nunca mais iluminará
9.9.2018
(Ilustração: Marianda VP - luar sobre Atenas)
(Você poderá ouvir esse poema, na voz do autor, no podcast indicado acima, à direita)
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