14 de out. de 2018

luz da lua






que brilhe a lua

apagando estrelas

que brilhe a lua

para todos que amam

que hoje estou apaixonado

e sentimental pra diabo

bebericando uma boa branquinha

sentindo de novo um pouco

das paixões de outrora

sem pensar que estou agora

muito mais só do que jamais estive



e esse sentimentalismo bobo

que em mim vive e sobrevive

não passa de um jogo de cena no teatro

que enceno para mim mesmo

no meio da noite de lua branca

e por isso escrevo versos tolos como este

que brilhe a lua

apagando estrelas

e outras bobagens dos tempos de paixões

quando o coração não era apenas

a bomba num peito murcho

mas pulsava ao som de valsas



curtindo a noite em solidão profunda

os espaços todos de meu pensamento

preenchidos não de dor ou desapontamento

mas apenas de desalento e desconfianças

a vida a tecer tramas ao meu redor

nas quais me enredo para fugir de mim

eu o estranho a beijar a lona

da luta inglória pela sobrevivência

a carne em fogo na trempe quase fria

dentro da noite os passos trêfegos

em becos sujos que terminam em muros negros

a esperança em trapos e os pés feridos



que brilhe a lua

não importa mais que ilumine estradas

não importa mais que reflita pupilas acesas

a lua continua seu caminho

e o poeta apenas bebe o cálice de sua paixão

(e isso é só mais uma bobagem que escrevo)

e chora por si mesmo sem que saiba

que não há lugar no mundo para seus versos

nem para seus uivos à lua que brilha

numa noite torpe sobre a cidade vazia

de amores advindos e amores findos

flores e pedras de delírios que a lua

no céu de mármore nunca mais iluminará





9.9.2018


(Ilustração: Marianda VP - luar sobre Atenas)


(Você poderá ouvir esse poema, na voz do autor, no podcast indicado acima, à direita)



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