18 de out. de 2018

noturno número 9







passeio à noite pelo jardim que só existe

na memória de futuros que não viverei

piso na grama molhada de neblinas frias

pensando pensamentos de melancolias

na saudade que na mente ainda persiste

a contar os sonhos que um dia sonhei

a grama o vento o frio a madrugada

todo o mundo agora para mim é nada

quando o vento que venta dentro de mim

traz o retrato de sombras sem fim

e o cantar dos meus passos na grama molhada

desencanta os cantos da vida de outrora

sujo os pés e limpo-os na grama de agora

mas por dentro está tudo tão escuro

e o vento que venta dentro de mim

torna cada passo um canto cada vez mais duro

no compasso estranho de estranhas vivências

o frio a névoa o vento a madrugada o frio

dentro de mim sopra o vento para o rio

e navego num barco sem controle e sem remo

sou apenas o que sei que sou e ainda temo

que meu futuro seja assim como vento da noite

a soprar dentro de mim como bate o açoite

nas costas nuas de uma pele negra a donzela

que não se entrega e não presta favores

a mulher que um dia teceu uma fulva estrela

com o recorte de seus dentes em meu peito

e hoje que ainda sonho o sonho dos desertores

pisando a grama fria da fria madrugada

tenho para mim que ela foi a mais amada

ainda que tenha o meu sonho todo desfeito

e me deixado nu ao frio desta madrugada






22.8.2018




(Ilustração: Edvard Munch, evening melancholy, 1896)




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