nosso amor de outrora é hoje um casarão abandonado
por onde perambulam os fantasmas de nossa imaginação
saudades escorregam pelos corrimãos de escadas podres
as aranhas entretecem seus fios com fios de nossas mágoas
nos buracos dos assoalhos enterra o tempo nossos sonhos
os cupins do tédio já corroeram por dentro as estruturas
sexo e tesão rangem as escadas por onde sobem e descem
flanando inutilmente em busca de novos arrebatamentos
ouvem-se ainda gemidos inconstantes no vazio dos quartos
abandonados aos ventos os ecos de nossos antigos estertores
o pacto outrora de amor queima num fogo frio da velha lareira
o ciúme é o cão sem dono que enterramos no porão sem janelas
e esse casarão hoje abandonado que é o nosso amor só resiste
aos ventos à chuva às intempéries porque foi construído
com o cimento e a areia e mais todo o sal de nossas lágrimas
17.10.2018
(Ilustração: Manabu Mabe - sem titulo - 1959)
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