28 de out. de 2018

réquiem









nosso amor de outrora é hoje um casarão abandonado

por onde perambulam os fantasmas de nossa imaginação

saudades escorregam pelos corrimãos de escadas podres

as aranhas entretecem seus fios com fios de nossas mágoas

nos buracos dos assoalhos enterra o tempo nossos sonhos

os cupins do tédio já corroeram por dentro as estruturas

sexo e tesão rangem as escadas por onde sobem e descem

flanando inutilmente em busca de novos arrebatamentos

ouvem-se ainda gemidos inconstantes no vazio dos quartos

abandonados aos ventos os ecos de nossos antigos estertores

o pacto outrora de amor queima num fogo frio da velha lareira

o ciúme é o cão sem dono que enterramos no porão sem janelas

e esse casarão hoje abandonado que é o nosso amor só resiste

aos ventos à chuva às intempéries porque foi construído

com o cimento e a areia e mais todo o sal de nossas lágrimas





17.10.2018


(Ilustração: Manabu Mabe - sem titulo - 1959)

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