23 de jun. de 2019

escravos






bateram tambores nas matas das áfricas

bateram o mato os capitães de brasis

a pele do povo preto de lá

a pele do povo preto de cá



povo de raça povo de caça

savanas e matas de áfricas selvagens

povo guerreiro orgulho de reis

na pele as marcas do rito sagrado

batem tambores de troncos

na dança nas festas aos deuses

fogueiras acesas ao pé de baobás

na pele as marcas de espinhos das matas

na pele o orgulho de seres da noite



bateram tambores nas matas das áfricas

bateram o mato os capitães de brasis

a pele do povo preto de lá

a pele do povo preto de cá



a funda senzala ecoa o canto

lá fora a lua chora o sangue do banzo

o tronco não bate o ritmo da mata

no tronco a negra não dança o lundu

no corpo torcido açoita o açoite

o sangue que jorra precisa cobrir

cobrir de vergonha a marca de orgulho

fazer da pele o arauto do acato



já não batem tambores de ritos e deuses

já não dançam mulheres com filhos no colo

já não exibem guerreiros as marcas da caça

já não choram as crianças o medo do escuro

só a pele que brilha na noite da américa

nas sujas favelas de morros fedidos

sabe a sal e salmoura na dor da ferida

negros e negras de pele curtida

não têm mais lembranças dos tempos

dos tempos das áfricas de matas e rios

apenas na pele a marca do açoite

escravos que eram escravos que são 






21.9.2019 

(Ilustração: Samburu tribe of north-central Kenya) 



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