não houve em meus passos o bater de tambores
não se ouve em meus gritos o bater de ossadas
nego o meu campo de centeio em brisa debulhado
assim como nego o teu anseio por novos mundos
caminho apenas e caminhas comigo por vales
que um dia de pressa e de chuvas torrenciais
lavaram e levaram nossos sonhos e travessias
restou apenas de nossos passos a lama podre
presa para sempre na sola dos nossos sapatos
gritamos e não ouvimos nunca de volta o som
de qualquer grito ou de qualquer sonata
quando quedas d’água surgidas de nossos olhos
queimaram a pele que esturricava ao sol
e então minha cara companheira de infortúnio
tudo o que era dia virou apenas o buraco negro
de onde surgiram dragões e fogos infernais
comendo as carnes que antes cobriam ossos
deixando enfim nossas vidas no ponto zero
29.5.2019
(Ilustração: René Magritte - La lampe philosophique; 1936)
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