10 de dez. de 2020

o relojoeiro

 






chuto a bunda da morte

e contemplo o vazio

que ficou no seu lugar



sei que não sou eterno

sei que profanei a realidade

e agora que vejo apenas o vazio

da não existência da indesejada

busco em mim algo inexistente

algo que preciso construir

- um relógio perfeito em suas engrenagens

para que a vida flua de novo como rio



não sou entre tantos atos complexos

necessários para tal tarefa

o relojoeiro de um deus que não há



o emergir de forças do vazio

só terá sentido se chamar de volta

a inevitabilidade de aceitar o não ser

e a esperança de voltar a viver

o que implica até mesmo morrer 




11.10.2020

(Ilustração: Salvador Dalí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário