corpos penetram-se
interpenetram-se
fundem-se e separam-se
o tempo e o espaço
apertados e interligados
num só laço
num só abraço
do vento à água e à pedra
a tudo quanto medra
em conluio de penetrações
ossos e areia
o vento tateia
nas peles a terra e pulmões
orgânicos e minerais
as interpenetrações
sem interrupções
sem dores nem ais
o solo em que semeia
o ar que se respira
soterra o osso e a pele
põe e repõe e tira
e depois expele
e depois aspira
o fruto maduro
o pau que era duro
a polpa que é mole
derrete como água
à fonte que deságua
esfria e aquece
tudo que se mistura
interpenetrações
num só espaço
dento do nó do tempo
o tempo que morre
no corpo do morto
o osso e a pedra
da pedra à asa
da água à brasa
no fogo o jogo
o tempo passa
passa e repassa
a lua enlua-se e traça
a noite de gozos
de gozos não gozosos
de gozos gasosos
ao sol que aquece
à chuva que umedece
ao tempo que esquece
a terra se fertiliza
sem qualquer comoção
na orgia precisa
de corpos em gozos
em gozos de penetração
na orgia da decomposição
5.10.2020
(Ilustração: Claude Monet)
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