os velhos sentam-se na praça
e jogam dominó
falam de coisas estranhas
como discos voadores e minhocas assassinas
riem com bocas sem dentes
envenenam o ar com seu hálito podre
os velhos sabem da vida
berreiros de recém-nascidos
e gemidos de moribundos
gestam flores murchas nas orelhas peludas
ouvem valsas ao som de sinos de igrejas barrocas
comungam velhas crenças de terras planas
cacarejam segredos de cada advogado
que olha por cima do ombro as pedras pretas
do dominó de pintas brancas como o olho
do gato que escorrega pelo capinzal
os velhos estranham as mídias
e se escondem atrás das lentes do lambe-lambe
qualquer passarinheiro que lhes entregue
uma pizza macia de queijo e azeitona preta
torna-se logo o conselheiro da tribo
os velhos não têm mais dentes e suas línguas
cortam o vento em lâminas de escândalos
sabem tudo os velhos da praça
por isso ordenham o sangue no olho
de jovens inúteis do passeio público
todos eles desejam que os velhos
dancem enfim o jogo da desesperança
mas os velhos da praça apenas gracejam
e riem de suas perplexidades e continuam
jogando dominó na velha praça dos velhos poetas
25.1.2020
(Ilustração: Caravaggio)
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