uma palavra apenas me basta
o cérebro alerta neurônios esquecidos
para acionar circuitos elétricos
a ligar frases e pensamentos
e os pensamentos voam em busca
em busca de conceitos e metáforas
sonhos sonhados ou sonhos vividos
como se a vida fosse apenas versos
pedras que são luas e luas que são flores
não importa a lógica
imprecisas as linhas de letras formadas
e só isso apenas
isso apenas o que me basta para viver
posso às vezes passar fome e frio
posso às vezes nem mesmo respirar
desencanto-me até de parcos prazeres
mas sem as palavras que nascem
de arroubos e de estranhas conexões
não passo
porque assim como nasce o sol
assim como brilham as estrelas
os neurônios de meu cérebro enlouquecem
e se desligam da vida e do sonho
se eu passar um só dia
sem escrever poesia
25.7.2020
(Ilustração: Lívio de Morais: Fernando Pessoa - heterônimos, 1997)
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