27 de set. de 2016

amarração do amor - 1




(Raimundo Bida - os noivos)






disputa feroz

nos postes do bairro

amarro o amor – diz um cartaz

trago a pessoa amada em 24 horas – diz outro

e o amor no poste

passeia pela imaginação

livre

leve

e solto

por que amarrá-lo?

e não será amargo o amor amarrado

ou amordaçado?

e aquele amor que vem em 24 horas

não se evola depois de apenas 4 horas?

amor amarrado em 24 horas

goza?

e o gozo na prisão não mata o amor?



disputa feroz

nos postes do bairro

todos os anúncios espicaçam

a vontade da posse

da posse do amor

e o amor passeia pelos gerânios das janelas

pula as grades dos jardins

pendura-se pelos fios elétricos

trepa nas árvores

corre na enxurrada qual barco de papel

aperta campainhas há tempo tão mudas

põe fogo ao jornal do aposentado que lê distraído

no banco da praça

como vento levanta a saia da moça

os óculos embaça da velha senhora

a rosa desfolha na mão do namorado

senta-se à mesa do velho casal

puxa o rabo do gato da gentil senhorita

e ri-se da disputa feroz

nos postes do bairro

quiçá de toda a cidade

de todo o mundo



o amor afinal

anda por aí

do equador ao chuí

da venezuela ao japão

falando línguas em labaredas de fogo

desamarrado

desamordaçado

vendido em prestações a perder de vista

cantado e decantado

nos postes

nas camas

nos campos

nos rios

nos mares

nos becos

de todo o mundo



e por todos os lugares

por onde graceja

não se disputa o amor

na disputa do amor?



ah! mas há sempre alguém

disposto a amarrar o amor

trazido de volta em 24 horas



17.9.2016




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