(Raimundo Bida - os noivos)
disputa feroz
nos postes do bairro
amarro o amor – diz um cartaz
trago a pessoa amada em 24 horas – diz outro
e o amor no poste
passeia pela imaginação
livre
leve
e solto
por que amarrá-lo?
e não será amargo o amor amarrado
ou amordaçado?
e aquele amor que vem em 24 horas
não se evola depois de apenas 4 horas?
amor amarrado em 24 horas
goza?
e o gozo na prisão não mata o amor?
disputa feroz
nos postes do bairro
todos os anúncios espicaçam
a vontade da posse
da posse do amor
e o amor passeia pelos gerânios das janelas
pula as grades dos jardins
pendura-se pelos fios elétricos
trepa nas árvores
corre na enxurrada qual barco de papel
aperta campainhas há tempo tão mudas
põe fogo ao jornal do aposentado que lê distraído
no banco da praça
como vento levanta a saia da moça
os óculos embaça da velha senhora
a rosa desfolha na mão do namorado
senta-se à mesa do velho casal
puxa o rabo do gato da gentil senhorita
e ri-se da disputa feroz
nos postes do bairro
quiçá de toda a cidade
de todo o mundo
o amor afinal
anda por aí
do equador ao chuí
da venezuela ao japão
falando línguas em labaredas de fogo
desamarrado
desamordaçado
vendido em prestações a perder de vista
cantado e decantado
nos postes
nas camas
nos campos
nos rios
nos mares
nos becos
de todo o mundo
e por todos os lugares
por onde graceja
não se disputa o amor
na disputa do amor?
ah! mas há sempre alguém
disposto a amarrar o amor
trazido de volta em 24 horas
17.9.2016
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