(Arnold Böcklin)
não têm amarras os versos que escrevo
são como os ventos que turbilhonam
em meu cérebro
se ventos de primavera
versos amansados e batidos pela vida
se ventos de inverno
versos revoltos e revoltados
quase polonaises raivosas em psicatos frenéticos
não têm amarras os versos que transpiro
surgem dos sonhos
das porradas da vida
secos ou melodiosos
versos que brotam de sentimentos e paixões
versos que se enovelam em duros pensamentos
não têm amarras no passado os versos que rascunho
nem projetam-se mais em utopias
voltam-se para o tempo se tempo é a matéria
como já disse o poeta
só o tempo presente
e a vida como um presente
a vida que corre nas veias
e corre nas ruas e rios sem fronteiras
rios que se precipitam em torneios - encachoeiradas
as palavras que revelo e transcrevo
e só se tornam versos e poemas
porque assim os chamo – versos e poemas
sem nós
sem peias
sem visgos
poemas surgidos assim de ventos
que sopram loucos ou vadios
e varrem para longe o vazio da vida
por eles e apenas por eles
- por esses versos e poemas calados
e sofridos -
dou de mim para mim
o presente mais caro –
a minha lucidez num mundo que se afasta cada dia mais
da possibilidade de ser compreendido
24.8.2016
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