5 de set. de 2016

amarras



(Arnold Böcklin)





não têm amarras os versos que escrevo

são como os ventos que turbilhonam

em meu cérebro



se ventos de primavera

versos amansados e batidos pela vida



se ventos de inverno

versos revoltos e revoltados

quase polonaises raivosas em psicatos frenéticos



não têm amarras os versos que transpiro

surgem dos sonhos

das porradas da vida

secos ou melodiosos

versos que brotam de sentimentos e paixões

versos que se enovelam em duros pensamentos



não têm amarras no passado os versos que rascunho

nem projetam-se mais em utopias

voltam-se para o tempo se tempo é a matéria

como já disse o poeta

só o tempo presente

e a vida como um presente

a vida que corre nas veias

e corre nas ruas e rios sem fronteiras

rios que se precipitam em torneios - encachoeiradas

as palavras que revelo e transcrevo

e só se tornam versos e poemas

porque assim os chamo – versos e poemas



sem nós

sem peias

sem visgos

poemas surgidos assim de ventos

que sopram loucos ou vadios

e varrem para longe o vazio da vida



por eles e apenas por eles

- por esses versos e poemas calados

e sofridos -

dou de mim para mim

o presente mais caro –

a minha lucidez num mundo que se afasta cada dia mais

da possibilidade de ser compreendido



24.8.2016

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