12 de set. de 2016

meus heróis



(Honoré Daumier - Don Quixote)






nenhum dos meus heróis gargalha na sela de um cavalo branco

no meio de uma batalha



nenhum dos meus heróis pisoteia o peito do povo em desprezo ao seu poder



nenhum dos meus heróis compra com dólares falsos a liberdade de crianças

nem oferece ao futuro apenas o peso do passado



nenhum dos meus heróis constrói monumentos de destruição e fogo

no meio de flores e bichos



nenhum dos meus heróis determina o apocalipse

em telefones privativos de linhas vermelhas



nenhum dos meus heróis cultua a traição e acende velas

para deuses dissolutos



nem precisava de heróis

mas se os tenho como exemplo de algo mais que a miséria dos prepotentes

quero-os sempre em meu peito

como a esperança que fulge mesmo no meio dos piores momentos da vida



não os quero no entanto

como querem aos deuses

se deuses existissem

os povos ignaros de antanho e de hoje

quero-os homens de poucas palavras

somente as que bastam

para afastar os bandidos

os destruidores

os traidores

os pusilânimes

e todos aqueles que pisoteiam o peito do povo





porque nenhum dos meus heróis compactuou um momento sequer

com a bandalheira de ricos e poderosos do mundo



5.9.2016

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