4 de set. de 2016

os cães



(Escultura de  LIU XUE - half human half dog)





ouçam o quanto ladram os cães

continuarão a uivar pelas noites afora

não angustiados – para a lua

mas contentes

o rabo a abanar

para o estrangeiro capital

que virá com douradas rações

em sacos

em negros sacos onde outrora

corpos jovens embalaram

daqueles que em terras distantes lutaram

pela estrangeira terra do capital



o ouro

o sangue

a vida

contida

revertida

enrustida

em cada dobre de sino

de seus navios de petróleo



e os cães que uivam e ganem

sabujam e babam contentes

rabos eretos a abanar

seus donos e senhores a saudar





não têm dentes esses velhos cães

perdidos todos – os dentes – a morder e a trair

são cães velhos agora remoçados

à ração do estrangeiro capital

felizes afinal

porque

bem bebidos

bem comidos

bem fornidos

bem servidos

quando um dia morrerem

– se morrerem –

vão ter todos

covas caras

nos jardins do palácio de cristal

lá bem no alto

bem no alto do planalto central



27.8.2016

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