com a paciência do pedreiro que espera a massa secar
e coloca um a um os tijolos de sua construção
o poeta vai construindo sua obra poema a poema
verso a verso
e assim como as catedrais que têm vitrais coloridos
e nichos sombrios e colunas imensas e detalhes de arabescos
a obra do poeta tem sombras e luzes e detalhes inapercebidos
tem versos tortos e alexandrinos perfeitos
derrama-se às vezes em lamentos profundos
ergue-se às vezes em aleluias de anjos barrocos
projeta no vazio a contraluz de suas torres
plange seus sinos em dobres de fim de tarde
marcando os silêncios do tempo da eternidade
e como as catedrais
a obra do poeta é interminável
se o subjuga durante toda uma vida
fica por aí a criar raízes em torno de seu túmulo
e na pedra pome que se amolda ao tempo
ou na pedra sabão que se remodela em novas formas
é o eterno cinzel atado às mãos de novos aleijadinhos
enquanto ao poeta cabe apenas o riso agônico
de ter lançado ao tempo a pedra fundamental
7.11.2019
(Ilustração: Yves Tanguy - 1900–1955: french surrealist painter)
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