confesso que gosto de poetas que não se envergonham
de cantar o amor em versos melosos cheios de lágrimas
e saudades como se fosse o mundo um grande pote de mel
esses poetas assim esparramados nos seus arroubos
a escrever cada verso como se fosse uma gota de sangue
como se cada estrofe fosse da amada um beijo perdido
chorando dores de amores de frustrados adolescentes
sim confesso que gosto desses desencantos desesperados
e leio sem escárnio j. g. de araújo jorge ou josé angel buesa
poetas que como tantos e tantos cutucam suas musas
adormecidas no tempo e fazem das pedras as lágrimas
de desespero por amores impossíveis com os corações
destroçados pela traição ou pela indiferença das amadas
porque são poetas assim que abrem as portas dos sonhos
não deixam quietas as inquietações de amores perdidos
e fazem de nós seus leitores cúmplices não declarados
daquilo que somos no mais íntimo de nossos corações
sem que às vezes o ousemos declarar até a nós mesmos
gostemos deles sim gostemos dos poetas desavergonhados
ainda que críticos de empinada erudição detestem seus versos
ainda que corações de pedra torçam para eles seus narizes
21.9.2019
(Ilustração: Ada Breedveld)
Nenhum comentário:
Postar um comentário