28 de dez. de 2019

pote de mel


confesso que gosto de poetas que não se envergonham

de cantar o amor em versos melosos cheios de lágrimas

e saudades como se fosse o mundo um grande pote de mel

esses poetas assim esparramados nos seus arroubos

a escrever cada verso como se fosse uma gota de sangue

como se cada estrofe fosse da amada um beijo perdido

chorando dores de amores de frustrados adolescentes

sim confesso que gosto desses desencantos desesperados

e leio sem escárnio j. g. de araújo jorge ou josé angel buesa

poetas que como tantos e tantos cutucam suas musas

adormecidas no tempo e fazem das pedras as lágrimas

de desespero por amores impossíveis com os corações

destroçados pela traição ou pela indiferença das amadas

porque são poetas assim que abrem as portas dos sonhos

não deixam quietas as inquietações de amores perdidos

e fazem de nós seus leitores cúmplices não declarados

daquilo que somos no mais íntimo de nossos corações

sem que às vezes o ousemos declarar até a nós mesmos

gostemos deles sim gostemos dos poetas desavergonhados

ainda que críticos de empinada erudição detestem seus versos

ainda que corações de pedra torçam para eles seus narizes





21.9.2019

(Ilustração: Ada Breedveld)


Nenhum comentário:

Postar um comentário