11 de ago. de 2016

PERMANÊNCIA



(Gauguin)




Já se escreveram todos os contos, todos os romances.

Já se compuseram todas as canções, todas as sonatas, todas as sinfonias.

Já se inspiraram todos os poemas, todos os versos.

Já se riscaram todos os prédios, todas as moradias.

Já se esculpiram todas as efígies, todas as esculturas.

Já se dançaram todas as coreografias, todos os gestos.

Já todas as palavras foram ditas; todos os gestos, repetidos.

Já todas as vidas que havia para viver foram vividas.

Mesmo assim continuam os artistas e todos os seres humanos

a compor melodias

inventar histórias

rabiscar poemas

inventar formas

dançar alegrias

riscar possibilidades

repetir palavras

recompor as vidas

repetir o amor

a dor

a saudade

a emoção

como se nenhum conto tivesse sido contado

como se nenhum canto tivesse sido cantado

nenhum romance, enredado

nenhum poema, declamado

nenhuma choupana – mísera choupana – reerguida

nenhuma figura, delineada

nenhum gesto, repetido

nenhuma palavra, soletrada

nenhuma vida, revirada e revivida

e do pó dos caminhos

mesmo do pó das estrelas

– nós os seres que vivemos nesta casa de noz –

recriamos

da pedra, da palavra, do peito, do sangue, do suor, do gesto, do cérebro

livros

danças

sons

figuras

pirâmides

vidas

para o inefável e inexorável desejo de permanecer.



18.7.2016


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