(Gauguin)
Já se escreveram todos os contos, todos os romances.
Já se compuseram todas as canções, todas as sonatas, todas as sinfonias.
Já se inspiraram todos os poemas, todos os versos.
Já se riscaram todos os prédios, todas as moradias.
Já se esculpiram todas as efígies, todas as esculturas.
Já se dançaram todas as coreografias, todos os gestos.
Já todas as palavras foram ditas; todos os gestos, repetidos.
Já todas as vidas que havia para viver foram vividas.
Mesmo assim continuam os artistas e todos os seres humanos
a compor melodias
inventar histórias
rabiscar poemas
inventar formas
dançar alegrias
riscar possibilidades
repetir palavras
recompor as vidas
repetir o amor
a dor
a saudade
a emoção
como se nenhum conto tivesse sido contado
como se nenhum canto tivesse sido cantado
nenhum romance, enredado
nenhum poema, declamado
nenhuma choupana – mísera choupana – reerguida
nenhuma figura, delineada
nenhum gesto, repetido
nenhuma palavra, soletrada
nenhuma vida, revirada e revivida
e do pó dos caminhos
mesmo do pó das estrelas
– nós os seres que vivemos nesta casa de noz –
recriamos
da pedra, da palavra, do peito, do sangue, do suor, do gesto, do cérebro
livros
danças
sons
figuras
pirâmides
vidas
para o inefável e inexorável desejo de permanecer.
18.7.2016
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