fodam-se os feios os frouxos os famintos
a máquina trituradora não pode parar
aos lamentos e às desditas de quem não a alimenta
e a máquina tem fome muito mais fome
que a fome de milhões de famintos por aí afora
suas garras arranham e arrebentam
montanhas e flores e suas entranhas
comportam rios e lagos e chuvas tropicais
seus movimentos enérgicos de quando ela era
apenas o ronco de uns poucos motores e teares
têm agora a lentidão de estrelas no infinito
mas a sua fome expulsa pantagruéis
de qualquer banquete a que ela comparece
mesmo sem ser convidada de ninguém
sabe a fedores de enxofre os seus arrotos
não fertiliza a terra suas fezes podres
constrói e destrói com avidez de buracos negros
espalha cadáveres em monturos fétidos
seu coração pulsa ao tilintar de registradoras
espalhadas em pontos estratégicos da terra rendida
a seus passos rangentes engrenagens e roldanas
parecem repetir como um mantra a todos os ouvidos moucos
que se fodam os feios os fracos e os famintos
3.4.2018
(Ilustração: escultura de Liu Xue)