meu coração está um lusco-fusco de tarde após a tempestade
não há mais considerações a serem feitas depois da tormenta
os ventos alísios sopram apenas o suficiente para mantê-lo
nunca pensei em chegar a um estado de esperança expectante
assim como os arroios que formam lagos após cachoeiras
sei que todos os seres humanos têm paixões turbulentas
não conheço quem almejara mais do que eu a paz dos idiotas
talvez agora seja o momento de enquadrar meus sentimentos
à mediocridade de um mundo que prima pela estupidez
afogado em guerras e assassinatos sem nenhum sentido
mergulho então em mim mesmo e não encontro nada
somente a fímbria escura de um horizonte tenebroso
a prenunciar o fim de tudo e o começo do absurdo
homens e mulheres abraçados a si mesmos em fogos
cometas astuciosos a cruzar o corno da lua nova
esperam-se dias de sol que nunca mais virão
e os corações angustiados desafiam leis inutilmente
porque a esperança que o fim da tarde de tempestade
trouxera enfim se esgarçou no abismo mais profundo
que estava escondido no fundo da alma de todos os seres
28.3.2018
(Ilustração: Paula Rego)
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