25 de abr. de 2018

lua negra









tempos de lua negra



tingem-se as águas do rio

afivelam-se pernas e braços

morcegos negros em galhos secos

movimentam-se ao vendaval

corpos anônimos e negros

negros como a noite de lua negra

que não se procure justiça

o clarão é raio que pune

quem chora nas choças negras

a miséria do esgoto que escorre



tempos de lua negra



assim a vida se perde em becos

o braço que se ergue não clama

o braço que bate não declama

a sujeira está no peito de bronze

e a lua negra não espelha a lágrima

são tempos de ratos negros

e o vento que sopra vem com o raio

cai a chuva e ninguém se molha

porque a lua não reflete o olhar



tempos de lua negra



noites que se prolongam no vento

encapelam-se os mares e nada

nada vem ao encontro da ferida

o sangue escorre escada abaixo

a dignidade sob escombros

e o grito que não sai fere a noite

o passo que vem passa marchando

deixa no pó negro a marca do sangue

levanta o escudo o guerreiro e berra

não há quem lhe ouça o lamento

são tempos de lua negra e negros dias



tempos de lua negra




17.4.2018




(Ilustração: autor desconhecido; 
Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga - Inferno)





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