tempos de lua negra
tingem-se as águas do rio
afivelam-se pernas e braços
morcegos negros em galhos secos
movimentam-se ao vendaval
corpos anônimos e negros
negros como a noite de lua negra
que não se procure justiça
o clarão é raio que pune
quem chora nas choças negras
a miséria do esgoto que escorre
tempos de lua negra
assim a vida se perde em becos
o braço que se ergue não clama
o braço que bate não declama
a sujeira está no peito de bronze
e a lua negra não espelha a lágrima
são tempos de ratos negros
e o vento que sopra vem com o raio
cai a chuva e ninguém se molha
porque a lua não reflete o olhar
tempos de lua negra
noites que se prolongam no vento
encapelam-se os mares e nada
nada vem ao encontro da ferida
o sangue escorre escada abaixo
a dignidade sob escombros
e o grito que não sai fere a noite
o passo que vem passa marchando
deixa no pó negro a marca do sangue
levanta o escudo o guerreiro e berra
não há quem lhe ouça o lamento
são tempos de lua negra e negros dias
tempos de lua negra
17.4.2018
(Ilustração: autor desconhecido;
Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga - Inferno)
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