23 de abr. de 2018

escolhas





sempre escolho numa bifurcação o caminho errado

gauche é isso

poeta?



podia ter sido tantas coisas que não fui

podia ter sido repórter... argh! seria mais uma escolha errada

podia ter sido arquiteto... um pouco melhor

podia ter sido fotógrafo... bem melhor

correr o mundo em busca do rosto mais interessante

do ângulo incomum e do acontecimento incoercível

acabei professor e nada ganhei



podia ter sido tanto o que não fui



as mulheres da minha vida

a escolha da mulher com quem casei: se não foi errada

totalmente a escolha

foi absurdo o tempo em isso ocorreu aos meus tão poucos

vinte anos

devia ter ido num tempo de sombra para o sol de recife

fiquei em belo horizonte

uma escolha que não sei se me trouxe o que realmente queria

só me trouxe de volta a são Paulo

os filhos

não escolhi os filhos que tenho

talvez por isso e só por isso

não tenha de que me arrepender ou me queixar

mas toda vez que me vejo entre duas decisões

sempre a errada é a que escolho desesperadamente



nunca sei se faço ou desfaço e quando desfaço devia fazer

e quando devia fazer é o desfazimento a melhor opção

troncho torto gauche sem eira nem beira

na vida que levo sou a folha morta de um velho poema

visto-me quando devia despir-me

sorrio quando devia chorar

paro quando devia caminhar

e viver foi apenas o que sempre quis

hoje o vento em meu rosto não me leva a nenhum lugar

sou eu em mim mesmo a minha escolha mais infeliz



25.3.2018


(Ilustração: Alfred Henry Maurer)




Nenhum comentário:

Postar um comentário