sempre escolho numa bifurcação o caminho errado
gauche é isso
poeta?
podia ter sido tantas coisas que não fui
podia ter sido repórter... argh! seria mais uma escolha errada
podia ter sido arquiteto... um pouco melhor
podia ter sido fotógrafo... bem melhor
correr o mundo em busca do rosto mais interessante
do ângulo incomum e do acontecimento incoercível
acabei professor e nada ganhei
podia ter sido tanto o que não fui
as mulheres da minha vida
a escolha da mulher com quem casei: se não foi errada
totalmente a escolha
foi absurdo o tempo em isso ocorreu aos meus tão poucos
vinte anos
devia ter ido num tempo de sombra para o sol de recife
fiquei em belo horizonte
uma escolha que não sei se me trouxe o que realmente queria
só me trouxe de volta a são Paulo
os filhos
não escolhi os filhos que tenho
talvez por isso e só por isso
não tenha de que me arrepender ou me queixar
mas toda vez que me vejo entre duas decisões
sempre a errada é a que escolho desesperadamente
nunca sei se faço ou desfaço e quando desfaço devia fazer
e quando devia fazer é o desfazimento a melhor opção
troncho torto gauche sem eira nem beira
na vida que levo sou a folha morta de um velho poema
visto-me quando devia despir-me
sorrio quando devia chorar
paro quando devia caminhar
e viver foi apenas o que sempre quis
hoje o vento em meu rosto não me leva a nenhum lugar
sou eu em mim mesmo a minha escolha mais infeliz
25.3.2018
(Ilustração: Alfred Henry Maurer)
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