tu te despes para mim
como a rosa se despetala ao vento
mas a rosa que se despetala ao vento
não tem o desejo que tens ao te despires
para mim
tua nudez sacraliza o próprio ato de te mostrares
sem atavios e sem outras possibilidades
que não sejam o amanhecer de meus anseios
quando ficas nua para mim
o mundo se reduz ao contorno de tuas ancas
e todo o despertar de antigas eras
percorre o arrepio de meu encanto
a nudez de teu corpo expele de mim
a grata paixão por outros caminhos que não sejam
os que levam ao teu gesto de rosa ao vento
os rios que vejo em cada uma de tuas veias
os vales que descortino em cada enleio de tuas formas
os luares de maio que em brumas me envolvem
não são todos os teus mistérios para mim
guardas na tua nudez absoluta o resquício
de profundidades inalcançadas e de estrelas
que já não mais existem no meu céu de paixões
quero-te assim nua para mim
como pétala em flor de setembro
como brilho de faróis na tormenta
quero-te nua simplesmente nua
2.3.2018
(Ilustração: Alfred Henry Maurer)
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