29 de abr. de 2018

nua para mim








tu te despes para mim

como a rosa se despetala ao vento

mas a rosa que se despetala ao vento

não tem o desejo que tens ao te despires

para mim



tua nudez sacraliza o próprio ato de te mostrares

sem atavios e sem outras possibilidades

que não sejam o amanhecer de meus anseios



quando ficas nua para mim

o mundo se reduz ao contorno de tuas ancas

e todo o despertar de antigas eras

percorre o arrepio de meu encanto



a nudez de teu corpo expele de mim

a grata paixão por outros caminhos que não sejam

os que levam ao teu gesto de rosa ao vento



os rios que vejo em cada uma de tuas veias

os vales que descortino em cada enleio de tuas formas

os luares de maio que em brumas me envolvem

não são todos os teus mistérios para mim



guardas na tua nudez absoluta o resquício

de profundidades inalcançadas e de estrelas

que já não mais existem no meu céu de paixões



quero-te assim nua para mim

como pétala em flor de setembro

como brilho de faróis na tormenta

quero-te nua simplesmente nua


2.3.2018


(Ilustração: Alfred Henry Maurer)





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