8 de set. de 2018

amor






cante-se um tango que o amor busque

na tragédia do dia o sangue seco

na lâmina de um punhal a lágrima

escondida no seio da moça enviuvada



no espanto das aves nos fios elétricos

às madrugadas se acotovele aos cães

vadios de becos escuros e sujos bordéis

seja o tiritar de frio do mendigo a chorar



à chuva das manhãs de primavera

que o encanto da vida dos amantes

se desfaça em leitos de lençóis de linho

na arruaça do destino a bater de porta



em porta nas madrugadas do sem fim

quando enfim se estenda pelas alamedas

o sangue derramado em seu nome em cântaros

de todos os tangos tristes da comédia humana





23.7.2018

(Ilustração: Roberto Ferri, il bacio)




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