2 de set. de 2018

reflexões sobre a vida







não sei qual o sentido da vida

não sei se tem a vida algum objetivo

sei apenas que ela corre em minhas veias

e faz-me pensar um pouco porque nasci

com esse maldito dom de pensar e de sonhar

olho a vida ao meu redor e vejo animais e plantas

também eles vivos e pulsantes seres sobre os quais

nada sabemos de seus pensamentos e de seus sonhos

sei que as plantas vivem e morrem e não têm cérebro

nem por isso são menos vivas que eu mesmo

sei que animais vivem e lutam por viver e dizem

que é apenas por instinto mas quando olho bem

nos olhos de um gato ou de um pássaro eu sei

que ele também me olha e pensa na estranheza

do meu olhar e fico sem saber se a vida que brilha

nessas pupilas tenha o mesmo encanto e desencanto

da vida que palpita nas células de meu corpo

ou nas sinapses de meu cérebro às vezes tão

estranho quanto a grama que nasce entre as pedras

no meio do caminho de porcos e javalis

sonho e penso ou penso porque sonho não sei

sei apenas que esta vida que carrego é fardo

às vezes cruel e sem sentido quando sofro

e sei que esta vida que carrego é prazer

e fuga de orgasmos e beijos de arrebóis

e que tudo por que se passa passa como o lento

fio de água que corre da montanha para o mar

e a vida que estremece nas entranhas de deuses

que não existem é a mesma vida que desmorona

em cataclismos e guerras e loucuras

a mesma vida que se esvai na sola do sapato

que pisa um formigueiro a mesma vida

e tudo é tão breve e tudo é tão lento

quanto um cometa que cruza o espaço

ou a passada do caracol na areia do deserto

o pássaro que voa ou a cascavel que rasteja

o vento que arranca as árvores e a chuva

que alaga as várzeas e cobre as cidades

a vida teimosamente continua e eu teimosamente

continuo a escrever os versos que nunca

serão lidos e isso pouco importa para mim

porque a vida me obriga a ser o que sou

e contra a vida só se pode conceber a morte

e se toda vida pressupõe morte que haja

entre o primeiro vagido e o último suspiro

um largo e lento verso de poucos lamentos

para que em poesia ainda que tosca e fria

se realize como pétala ou como espinho

mas se concretize assim como as nuvens

se transformam em chuva e o cheiro da terra

possa entrar por nossas narinas e avivar

o processo que torna a vida que vivemos

o único e real dom que temos como seres





30.8.2018

(Ilustração: Nicoletta Tomas Caravia)



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