sobre meus ossos não há barro amassado por mão de nenhum deus
sobre meus ossos há carne que come carne que se rasga como carne
sobre meus ossos há tendões e veias e músculos mesmo que frágeis
sobre meus ossos há a vida que veio das águas há milhões de anos
sobre meus ossos há peles e pelos que se eriçam nas noites frias
sobre meus ossos há desencantos de caminhos errados e perdidos
sobre meus ossos há marcas de chibatas e ódios triturados em surdina
sobre meus ossos há veias por onde corre o sangue do primeiro dinossauro
e dentro de meus ossos há medulas de angústia e enredos do tempo
e dentro de meus ossos há a massa que sonha que pensa que cria e vigia
e de todos os alimentos de que se serviu o meu corpo para sobreviver
somente o que nutre a minha imaginação é o grito primal da total liberdade
19.11.2018
(Ilustração: Doug Johnsonson)