9 de nov. de 2018

aniversários





em janeiro de dois mil e dezessete eu completei

setenta e dois anos de idade e pensei comigo

basta

nada mais de aniversários

nada mais de envelhecer

que eu viva mais dez ou doze ou vinte

ou sei lá quantos mais anos

que eu morra aos setenta e dois anos



e hoje quando mais de ano passado

continuo com setenta e dois anos de idade

e assim continuarei para sempre



e alguém pode até contrapor

por que não paraste aos vinte e sete por exemplo

quando estavas no auge da mocidade

ou pelo menos na maior completude da vida

quando tinhas ainda tantos sonhos a sonhar

tantas vidas a viver



ora digo eu porque aos vinte e sete ou outra

qualquer idade abaixo dos setenta e dois

não teria nenhuma completude porque isso

de estar completo ou exuberante ou jovem

nada tem a ver com a vida vivida e experimentada

aos setenta e dois sou a mais plena incompletude

apesar de tudo quanto tenha vivido ou experimentado

e assim talvez um velho de cabelos brancos eu possa

ao me olhar ao espelho pensar que nada mais

nem de menos se possa esperar de surpresas ou

desencantos e que eu tenha a quietude do regato

ou a placidez dos lagos ou até mesmo a sabedoria

dos animais que vivem apenas sem pensar no futuro

que aos vinte e sete seria o motivo do meu envelhecimento

não tenho mais o que envelhecer e como estou

posso permanecer ao relento à chuva ao sol ao vento

que a pele curtida não tem mais por que se trocar

por células novas que de novo se renovam e eu

um velho não velho um jovem sem ser jovem

permaneço com meu sorriso tranquilo ou não

mas sem qualquer esperança que impeça

que eu sonhe os sonhos mais impossíveis que

nenhum jovem de qualquer idade ousaria sonhar







30.8.2018


(Ilustração: Luis Ricardo Falero)



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