7 de nov. de 2018

amada adormecida










Eu adormeço às margens de uma mulher: 

eu adormeço às margens de um abismo. 



Eduardo Galeano – O livro dos abraços 





tuas voragens que vêm de vulcões

traçam vultos esquecidos dentro da noite

teus vetores de velocidade variam

os esquecimentos dos meus sonhos

não os guardo [aos sonhos] nenhuma memória

apenas o tremular de penas não sofridas



meus arpejos e desejos misturam-se

nos abismos dos teus cabelos

e tudo quanto possuis de sagrado

são os abismos a que se lançam meus suspiros



há antiguidades não reveladas

em cada moteto ouvido em tuas catedrais

e afundam-se civilizações ocultas

ao simples bater de tuas pálpebras



quando os sinos tangem as meias-noites

o assombro de minhas inquietações

tresandam em rios de lava e fogo



de ti são os fulgores que sobem aos ares

de ti são os rios ferventes a construir

novas paisagens na terra arrasada

e tudo quanto resta ao corpo adormecido

passa pelo crivo de tuas voragens



és enfim [amada adormecida] o porto

inseguro de todas as minhas partidas

e chegadas e o reino deveras desencantado

onde eu nunca serei teu dono





8.10.2018


(Ilustração: Marc Chagall)

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