Eu adormeço às margens de uma mulher:
eu adormeço às margens de um abismo.
Eduardo Galeano – O livro dos abraços
tuas voragens que vêm de vulcões
traçam vultos esquecidos dentro da noite
teus vetores de velocidade variam
os esquecimentos dos meus sonhos
não os guardo [aos sonhos] nenhuma memória
apenas o tremular de penas não sofridas
meus arpejos e desejos misturam-se
nos abismos dos teus cabelos
e tudo quanto possuis de sagrado
são os abismos a que se lançam meus suspiros
há antiguidades não reveladas
em cada moteto ouvido em tuas catedrais
e afundam-se civilizações ocultas
ao simples bater de tuas pálpebras
quando os sinos tangem as meias-noites
o assombro de minhas inquietações
tresandam em rios de lava e fogo
de ti são os fulgores que sobem aos ares
de ti são os rios ferventes a construir
novas paisagens na terra arrasada
e tudo quanto resta ao corpo adormecido
passa pelo crivo de tuas voragens
és enfim [amada adormecida] o porto
inseguro de todas as minhas partidas
e chegadas e o reino deveras desencantado
onde eu nunca serei teu dono
8.10.2018
(Ilustração: Marc Chagall)
Nenhum comentário:
Postar um comentário