dança a folha ao vento
brilha a prata ao sol
pesa o beijo na boca
quando acaba o desejo
a folha seca some no solo
a prata escurece e perde o brilho
tudo se vira numa outra coisa
tudo no mundo envelhece e envilece
na cama o desejo defunto apodrece
transforma-se o louco amor em ódio
quando o beijo na boca não mais apetece
desonra-me teu corpo
desespera-te o meu engodo
já não há paz de tulipas
nem altares de sacrifícios
segue o teu sangue pelas veias abertas
de feridas escarificadas nos carinhos de agora
seguirei eu o meu curso de rio de montanha
em quedas d’água que movam moinhos de outrora
13.3.2020
(Ilustração: Hans Bellmer - peg-top)
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