26 de abr. de 2020

moinhos




dança a folha ao vento

brilha a prata ao sol

pesa o beijo na boca

quando acaba o desejo



a folha seca some no solo

a prata escurece e perde o brilho

tudo se vira numa outra coisa

tudo no mundo envelhece e envilece

na cama o desejo defunto apodrece

transforma-se o louco amor em ódio

quando o beijo na boca não mais apetece



desonra-me teu corpo

desespera-te o meu engodo

já não há paz de tulipas

nem altares de sacrifícios



segue o teu sangue pelas veias abertas

de feridas escarificadas nos carinhos de agora

seguirei eu o meu curso de rio de montanha

em quedas d’água que movam moinhos de outrora 






13.3.2020 


(Ilustração: Hans Bellmer - peg-top)




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