6 de abr. de 2020

identidade




escrevo para buscar uma identidade que me parece fluida

sou eu – quem?

o que busco não encontro

ou o que encontro é o que não busco?

sabe-se a fel a vida que se leva

em vozes que ecoam no vazio

basta o sonhado para o sonâmbulo

ou tudo quanto ali está nunca esteve?

flui o vento pelos ouvidos à música da manhã

e não há esferas de luzes pendentes de árvores secas

no espanto de viver não está a vida

está dentro de mim o espinho que me fere

o desencontro de mim para comigo

desata apenas um nó

não desata o desespero do olhar

de quem sobe a montanha e não vê o horizonte



28.3.2020

(Ilustração: Eric Lacombe - dark abstract portrait)

 

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