houve um tempo
houve uma praça
houve uma sombra na janela
um relógio antigo a bater as horas
passos nervosos sobre as tábuas longas
porque longas eram as horas da noite
os olhos acesos em longa espera
houve um tempo de beijos mortos
folhas secas pisadas como estrelas secas
flores murchas nos cantos de muro
as trevas da lua nova e dos sonhos inúteis
houve um tempo de sons antigos
e as noites frias refletiam desejos insanos
o pejo e a dor nos pés descalços
pelas ruas mortas povoadas de vultos
de chapéus ao vento e capas longas
e na praça os beijos de angústia
casais estranhos a dançar a valsa dos ventos
nesse tempo estranho de desencantos
um buraco imenso abria o abismo
de uma saudade
nunca mais desapegada de minha sombra
28.11.2019
(Ilustração: Marc Chagall)
Lindo! Profundo!
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