17 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 8


(Antônio Bandeira)



fractais em braile
ao cego destino
conduzem
fractais em telas
à extrema visão
desdobram
fractais em vidro
ao doce perfume
reduzem
fractais
em notas
à eterna sinfonia
repetem
fractais amargos
ao sábio cicuta
oferecem
e em meio à futurista festa
de mundos em delírio
afogam memórias
de arte primeva
destroem os mitos
de eternos desejos
amalgamam as mentes
à luzes e cores
da louca semente
do mundo por vir.

5.6.92

FIM

16 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 7


(Antônio Bandeira)


foca-se o ponto
ligam-se as luzes
desligam-se as mentes
começa a viagem
ao mundo etéreo
do prótons e nêutrons
flechas de âmbar
deuses descalços
demandam buracos
negros do espaço
estrelas e flores
de cores de abismos
ordenam o caos
em rio de larvas
em vidas tornadas
em mares de espumas
de esgares retidos
no fundo abissal
que ao alto se eleva
um raio finíssimo
a mente abrirá
para o doce futuro
que um dia virá



5.6.92



15 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 6


(Antônio Bandeira)


era uma vez
um velho padrão
no meio de dura
redoma de vidro
vestido como um deus
em raios de luz

foi uma vez
um velho padrão

é uma vez
um novo padrão
sagrado em meio
a raios de laser
tornado sagrado
na mente obtusa
do chefe maior
de todas as máquinas

seria uma vez
um novo padrão

será uma vez
um jovem padrão
em átomo tornado
menor que um deus
plantado num chip
condensa energia
de mentes potentes
e lança seus raios
ao longo do tempo
fazendo pequeno
o espaço entre sóis

será uma vez
um eterno padrão...


5.6.92



13 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 5


(Antônio Bandeira)



dos fótons aos fatos
esquemas binários
na mente matemática
de bites e bytes
deformam-se em luzes
estranhos mistérios
organizam-se em cores
o caos magnético
delírios cubistas
Einstein revisitado
expande universos
e expõe da matéria
novos paradigmas
além da razão
mente e matéria
fundem-se à luz
em fundos abismos
em altas montanhas
sóis de múltiplos
espectros vitrais
e no fundo de tudo
a lenta agonia
de mundos febris
mortos em vida
para a vida surgindo
deuses valentes
de antigas batalhas
aguçam espadas
e ferem mais fundo
antigas ilusões



5.6.92


12 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 4


(Antônio Bandeira)



do círculo semiperfeito
ao quadrado em potencial
explodem equações
de caráter universal

mágico o mundo desfaz
sem eira nem lógica
enrosca-se num teorema
do pobre Pascal
e acaba num vago poema
da arte fractal
de todas as bases
revoltam-se expoentes
em busca da ilógica
e de todas as partes
as artes que têm
mergulham em alfa
do Bach ao budismo

e volta o círculo ao quadrado
re-volta a vida aos trilhos
presente e futuro num só passado
arrebentam todos os brilhos



3.6.92

11 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 3


(Antônio Bandeira)



frases
versos
poemas
caos



x/=



sintaxe
orações
prosas

ordem



da quebra

da desordem
nasce a nova ordem
que precisamente
necessita
de nova estrutura
um novo de novo
registra o poema
em sons e fúria
frações ordinárias
e do caos à absoluta
desordem do
mundo
mundo
muda-se o ser
e nasce do ovo o óvulo
do óvulo o esperma
do esperma a vida
da vida o caos
retorno/retorno


3.6.92


10 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 2


(Antônio Bandeira)

no abismo
o caos
reflete o reflexo
em ondas e naus
o sistema convexo
da ordem universal
num átomo estranhas
figuras emergem do
fundo o ser
o ver
de novo
a rever o velho em
formas dis
formes
além do fundo
um novo
mundo mais
no abismo
a floriforme
ferida do
caos.




3.56.92


9 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: fractais 1


(Antônio Bandeira)



frágil
vaga estrutura
fracciona-se
em cores
e espinhos
abismos e montanhas
estrelas
rosas e girassóis
o centro
em mil estilhaços
partido
unido
repartido
reunido
átomos de luz
luz em prótons
prótons em
nêutrons
explodem
instáveis
em novas estruturas
sempre as mesmas
iguais
desiguais
num tempo
inenarrável
sombras e luzes
luzes e cores e cores e luzes
big-bang
num flash
de formas deformadas
profundidades e protuberâncias
frações
segundos
na superfície lisa e clara
da pérola rara.



3.6.92

8 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 17




Não quero fazer nada
não quero pensar em nada
chega de filosofias
chega de babaquices
que chamam curtir a vida
quero apenas o nirvana
de dentro de teus olhos
e sentir o que sentes
num espelho
mil vezes invertido
mergulhar depois em mim
para achar um pouco
do amor louco que resiste
aos reveses de tudo
não quero amar-te apenas
quero amar esse amor
e perder-me na via-láctea
que me leve ao retorno
do fim dos tempos
começo da vida
quero estilhaços de estrelas
em giroscópicos volteios
a brilhar em tempestades
de prazeres vislumbrados
quero apenas a poesia
a medrar do peito
a subir à mente
como cipós entrelaçados
quero o abismo
que me prometem teus olhos
e do fundo alçar
o vôo sem asas
em asas que me darás
não quero nada
só quero a entrega total
ao sentir mais profundo
à viagem de teu corpo
em etérea nuvem decomposto
e achar enfim
o nada que existe em mim
para ser eterno nos braços teus.



2.6.92

(Ilustração: foto de IVolgin)

7 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 16



Podia ser eu
na foto do jornal
podia ser eu
entre livros raros
a falar do mundo
podia ser eu
a subir a montanha
a cruzar os mares
em barcos de papiro
podia ser eu
a estar na tevê
e num programa legal
fazer o sol nascer
podia ser eu
a cantar um rock
a reger a orquestra
do Municipal
a receber a taça
a voar entre asteróides
podia ser eu
a estar só
no meio da multidão
podia ser eu
a pular da vida
no meio do caos
sob o aplauso
de pobres coitados...
É! podia ser eu...


15.2.92

(Ilustração: foto de YuriB.)


6 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 15





asa quebrada
quebrada
quebrada
que brada: justiça

é isso e aquilo
liberdade
li e vi visões de vida
raios
na noite a luz
asa de azares
ares
ares
mares
maré

ontem às grades
hoje às feras
amanhã a ti
à liberdade

idade do sol
idade da pedra
idade da luz
idade da lei
vã vaidade

inútil verdade
fatos e fetos
fetos e vidas
vidas e luzes
pedras
caminhos
caminhos
caminhos
nada


29.4.92


(Ilustração: foto Georg Suturin3)

5 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 14




caminhos do nada a lugar nenhum
versos quebrados em pedras soltas
montanhas de pó

trilhos de trens fantasmas
o brusco arrebol arrebenta a calmaria
pássaros zonzos

noites quase dias à luz da lua
quedas de brilhos súbitos assustam
amantes adormecidos

beijos de damas-da-noite em fragrâncias
palmeiras ao longe recortam horizontes
montanhas azuis

silêncio de pedra entre grilos e sapos
lagoa em espelho reflete o negro
espaço sem fim

murmúrios de fadas
gnomos em festas
mágica a noite
magos ao luar
soltas as bruxas
o céu se funde
à montanha de pedra
o negro espaço
à luz da lua
silêncio o mundo suspira
montanhas de Minas.


29.4.92

(Ilustração: foto serra da Mantiqueira de Cristiano Tomaz

4 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 13





Ruas estreitas de minha aldeia
cobertas de pedra e areia,
chão rasgado por passos
de pés nus sem esperança,
procissão de dor e lembrança
a abrir o tempo em busca de espaços,
ruas e becos sem saída,
contidos por voçorocas e rios:
na terra aberta lenta ferida
renova da natureza todos os cios;

sobre o vento passam fantasmas,
sob a areia ficam os passos,
sobem ou descem da neblina os miasmas,
de rostos antigos delineiam-se os traços;

dos becos à luz da lua
retorna do futuro que não há
a imagem do passado que flutua
à brisa que um dia soprará;

na praça a sombra da tipuana
tece nas pedras do chão o bailado
de toda a desesperança humana
e ao fundo o velho sobrado
revive os sonhos do passado;

no sobe e desce dos caminhos
outrora no ouro adormecidos
onde púrpuras, sedas e arminhos
o orgulho traziam revestidos,
o pobre chão de terra batida
mostra entre pedras e espinhos
douradas cicatrizes de uma só ferida
aberta à lenta cobiça do tempo
às sombras, aos reis, ao pobre
sepulturas de flores e vento
que a poeira dos passos não cobre.

Ruas, ruas, ruas de aldeia
por onde o passado passeia
sob rios de ouro e de areia!



27.4.92


(Ilustração: foto de Lavras antiga - praça Dr. Jorge)

3 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 12



Se mergulho em sóis,
transporto o belo;
se crio arrebóis
num louco cogumelo,
faço do verso
um lento massacre;
no campo disperso
o cheiro mais acre
do meu próprio sonho;
se levanto da face o véu,
em que cada letra que ponho
entre a terra e o céu,
vejo-me poeta e louco,
a sofrer dores infindas;
morro cada vez um pouco
em campo de aves coloridas,
fincadas em ser as raízes
de dores as mais sofridas,
os tempos de dias felizes
morrem lentos, lentamente;
da vida pouca que resta
sinto-me cada vez mais temente;
do fogo que arde em mim,
dos pássaros de asas quebradas,
dos santos com cara de querubim,
do próprio deus de todas as desgraças
ouço pedidos de favores como às prostitutas;
o fogo que queima todas as sarças,
a espada de todas as lutas
e o delírio de tardes de outono
trazem-me tormentos e alegrias,
fazem-me perder de vez o sono
num sonho de noites mais frias;
e enquanto surge no céu de jade,
a cavalgar o dorso da lua,
a deusa-mãe de minha saudade,
vejo ao meu lado, toda nua,
a mulher de negro vestido,
trazida pelo vento norte,
a abrir no meu peito a ferida
da minha lenta agonia e morte.


15.4.92


(Ilustração: foto de YuriB.)

2 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 11



Se crio metáforas,
de simples palavras
transformadas em versos,
retiro o tormento
que longe me leva.

Se crio metonímias,
transporto-me em corpo
para a vasta prisão
da realidade que nego.

Se crio apenas versos,
em soltas palavras,
vejo-me como sou:
lua e sol em fugaz eclipse
a buscar estrelas
cada vez mais distantes.



15.4.92

(Ilustração: foto de Georg Suturin)

1 de mai. de 2010

POEMAS DO MUNDO: lugares... caminhos... 10




navegam navios no mar
naves voam ao vento
rodamoinhos no chão
leitos revoltos em fúria
o amor nasce de sumos
em sulcos abertos de gozos
mistérios e luzes de estrelas
fundos negros de dor e prazer
facas em cortes e brilhos
brilhos de explosões e galáxias
o navio a nave encontram-se
na Via Láctea dos orgasmos




8.4.92


(Ilustração: foto de HoryMa)