(Guennadi Ulibin)
VIADUTOS
I
À sombra do viaduto,
olhos ferozes contemplam a cidade.
Traçam planos absurdos
enquanto mastigam pedaços de pão
para aplacar a fome do cheiro de cola.
Ninguém está imune.
São todos, todos culpados.
Os vermes virão da terra
e quebrarão os vidros dos automóveis de luxo.
São ratos nauseabundos
a misturar-se aos perfumes franceses
de lojas elegantes.
Não há ratoeiras que os prendam.
Não há polícia que os detenha.
Estão todos, todos perdidos.Eles dominarão a terra,
farão compreender aos burgueses
quão frágeis se tornaram
as estruturas sociais.Os ratos só sabem
do roncar de suas barrigas.
Ignoram planos traçados
nos gabinetes oficiais.
São ratos, apenas ratos,
a arrepiar estruturas sociais.
Enquanto isso, a cidade
olha as estrelas difusas
e escreve leis para abolir os ratos.
II
O viaduto inchou e explodiu.
Dos escombros pulularam ratos
que assombraram os planejadores.
Tomaram de assalto
gavetas ministeriais.
Surgiram aos bandos
dos punhos de renda dos homens da lei.
Seus guinchos gravaram
em discos a laser de duplas caipiras.
Seu fedor implacável
grudou-se para sempre
nas notas de câmbio
de bancos oficiais.
Seus pelos entrelaçaram-se
às peles mais caras
das putas de luxo.
Seus dentes podres abocanharam
as trufas importadas
no prato do velho banqueiro.
Seus olhos de sangue assustaram
meninos inocentes da bolsa de valores.
E quando tudo perdido parecia,
a lei salvadora estampou-se
na página primeira de todos os jornais, revogando disposições em contrário:
DE AGORA EM DIANTE, PROÍBEM-SE OS VIADUTOS!
III
No ano de dois mil duzentos e vinte,
um viajante estelar aqui pousou:
com técnicas estranhas começou
a buscar as causas do estranho vazio.
Encontrou cidades intactas
e obras mil de raro saber.
Nos campos, as árvores vergavam
de frutos repletas.
Mares e oceanos abrigavam
peixes, crustáceos e mamíferos
de espécimes estranhas
aos olhos atentos do esperto viajante.
Mesmo os morros e planaltos,
as florestas e matagais
pássaros, flores, feras possuíam,
num quadro perfeito
de harmonia natural.
Faltava, apenas, ao viajante
examinar com mais rigor
as águas paradas dos rios antigos.
O olho eletrônico da máquina alienígena
aos olhos estupefatos do experiente viajante
revelou a presença aos milhares,
em formas primitivas e mutantes,
do velho e conhecido vibrião da cólera.
VIADUTOS
I
À sombra do viaduto,
olhos ferozes contemplam a cidade.
Traçam planos absurdos
enquanto mastigam pedaços de pão
para aplacar a fome do cheiro de cola.
Ninguém está imune.
São todos, todos culpados.
Os vermes virão da terra
e quebrarão os vidros dos automóveis de luxo.
São ratos nauseabundos
a misturar-se aos perfumes franceses
de lojas elegantes.
Não há ratoeiras que os prendam.
Não há polícia que os detenha.
Estão todos, todos perdidos.Eles dominarão a terra,
farão compreender aos burgueses
quão frágeis se tornaram
as estruturas sociais.Os ratos só sabem
do roncar de suas barrigas.
Ignoram planos traçados
nos gabinetes oficiais.
São ratos, apenas ratos,
a arrepiar estruturas sociais.
Enquanto isso, a cidade
olha as estrelas difusas
e escreve leis para abolir os ratos.
II
O viaduto inchou e explodiu.
Dos escombros pulularam ratos
que assombraram os planejadores.
Tomaram de assalto
gavetas ministeriais.
Surgiram aos bandos
dos punhos de renda dos homens da lei.
Seus guinchos gravaram
em discos a laser de duplas caipiras.
Seu fedor implacável
grudou-se para sempre
nas notas de câmbio
de bancos oficiais.
Seus pelos entrelaçaram-se
às peles mais caras
das putas de luxo.
Seus dentes podres abocanharam
as trufas importadas
no prato do velho banqueiro.
Seus olhos de sangue assustaram
meninos inocentes da bolsa de valores.
E quando tudo perdido parecia,
a lei salvadora estampou-se
na página primeira de todos os jornais, revogando disposições em contrário:
DE AGORA EM DIANTE, PROÍBEM-SE OS VIADUTOS!
III
No ano de dois mil duzentos e vinte,
um viajante estelar aqui pousou:
com técnicas estranhas começou
a buscar as causas do estranho vazio.
Encontrou cidades intactas
e obras mil de raro saber.
Nos campos, as árvores vergavam
de frutos repletas.
Mares e oceanos abrigavam
peixes, crustáceos e mamíferos
de espécimes estranhas
aos olhos atentos do esperto viajante.
Mesmo os morros e planaltos,
as florestas e matagais
pássaros, flores, feras possuíam,
num quadro perfeito
de harmonia natural.
Faltava, apenas, ao viajante
examinar com mais rigor
as águas paradas dos rios antigos.
O olho eletrônico da máquina alienígena
aos olhos estupefatos do experiente viajante
revelou a presença aos milhares,
em formas primitivas e mutantes,
do velho e conhecido vibrião da cólera.
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