15 de out. de 2010

POEMAS ESPARSOS - 20


(Guennadi Ulibin)



A porta


Ante a porta trancada, envolta em luz, lua verde filtrada entre frestas,
detém o passo
o estranho caminheiro.
Ofega-lhe o peito
da longa estrada
de obstáculos percorrida.
Turvos os olhos
do sal dos caminhos.
Trêmulas as pernas
do peso dos abismos.
Crestada a pele
dos mil sóis de mil meios-dias.
Ali, prestes a ter
da busca a recompensa,
não vê com os olhos
o que os olhos desejam ver.
A porta.
Fechada sem trinco.
Lacrada sem lacre.
Inefável em sua existência
de simples existir.
Fluida e concreta.
Opaca e luminosa. A porta.
Abstração de aço e chumbo.
Fim em si mesma.
E o viajante, ali,sonhador incorrigível,
sugado dos ventos de lentos caminhos,
vê na porta intransponível
todo o mistério de sua própria vida.


27.10.93

Nenhum comentário:

Postar um comentário