11 de out. de 2010

POEMAS ESPARSOS - 18


(Guennadi Ulibin)



Buraco



Ao fender-se a terra
em abismos de sangue,
vi que o buraco encerra
meu próprio eu exangue.

Para melhor apreciar
o grande espetáculo de me ver em chamas,
deixei-me de um lado e para o outro pulei.
Via-me, assim, em imagem de espelho,
ao mesmo tempo que projetava
no abismo de fogo um novo eu a cada instante.
No pesadelo de me ver
dos dois lados da voçoroca
e ao mesmo tempo queimar-me ao fundo,
lutei em vão para entender
em que mundo me achava assim dividido.
Partira-se-me o próprio corpo
em pedaços intocáveis.
Se me via ao sul, no norte me achava.
Se me via ao norte, no sul me contemplava.
E a dupla máscara ao fundo vigiava
outros monstros de mim nascidos.
Assim fiquei por muito tempo
a enganar-me e ao próprio mundo:
ser de múltiplos recursos
em mim mesmo sem nenhuma esperança.
Até que um dia o vulcão
desfez-se em lágrimas candentes para, depois de louca explosão,
cegar-me para sempre a mim e a todos
que de mim se projetaram. Inutilmente.


3.6.93

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