29 de out. de 2010

POEMAS ESPARSOS - 26



                                                                                          (Guennadi Ulibin)


Verso inútil



De que eras antigas, perdidas no tempo,
vem essa melancolia que me aflige a alma?
De onde a dor, a dor que em mim experimento
como um vulcão que jamais se acalma?

De que pecados foi feito o ser que em mim habita,
para que, na solidão e no âmago profundo
da noite eterna, continue sempre nessa desdita
de assumir em mim as dores de todo o mundo?

Recolho-me em ânsias e como sonâmbulo escrevo
loucos poemas embebidos em lágrimas e sangue;
faço e refaço tudo aquilo que não devo
para, ao fim de cada verso, prostrar-me exangue
e deixar que docemente retorne a dor
de uma saudade cada vez mais estranha e louca.
Não consigo ir além de mim e transpor
o sentido oculto que não ousa explodir em minha boca,
preso ao peito como um verso inútil ao fim do poema.


14.7.94


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