sobre as ondas do mar navega o valente barco
cão raivoso ruge medonho o vento
o mar inteiro enovela-se para engolir o barco e seus navegantes
prende entre nove dedos
com mais força o timão o timoneiro sozinho à proa
vespas vermelhas os marinheiros
correm pelo convés da popa à proa
preparam alguns os botes salva-vidas
gritam outros palavras de ordem
tudo se confunde ao negror da noite e à tempestade
alçam voo as gaivotas amedrontadas
possuída de ódio mortal a onda avança
da proa à popa varre o velame e o barco range
segura mais forte ao timão o velho timoneiro
sabe que é violenta a tempestade mas passageira
mais do que todos conhece o mar e seus humores
seu sonho um dia já foi alvorada
durou o tempo do dia calmo em mar de golfinhos
sabe que a noite de tempestade traz o ódio
o ódio cego a pisar a derriçada esperança
mas sua sabedoria de velho timoneiro lhe diz
que depois da bonança e do nevoeiro
vem sempre a manhã do renascimento
volta-se então para todos os marinheiros
os seus olhos cansados porém ariscos
dizem a todos que se acalmem
dizem a todos que trabalhem
que os sonhos ainda não morreram
porque a vida vira um só pesadelo
quando cada um dos marinheiros
mata dentro de si o próprio sonho
devem todos permanecer em vigília
para que a noite negra enfim amanheça
para que o sonho sonhado reviva
ao sol de uma nova e feliz alvorada
formada com a chama sempre acesa
que há nos olhos do bravo timoneiro
3.11.2016
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