16 de mai. de 2018

amor perigoso







periga o amor bater de frente logo ali no bar da esquina

com a turma da pesada e dançar um funk ou um blues etílico

e acabar destroçado num show de rock num estádio de futebol

periga o amor acabar quadrado numa cama de motel

entre espelhos de cristal vagabundo tomando uísque falsificado no paraguai

cheirando calcinha ou usando cuecas transparentes

calmo o amor nunca foi em sua ânsia de poder e foder

mas periga agora sentir o peso do passado podre

e acabar à deriva num bote em plena preamar

e à luz do luar dançar pular gozar um cancã

como se nunca houvesse mais o tal amanhã

chega o amor para destronar o rei

e encontra o rei jogando pelada na várzea

a coroa debaixo do banco dos jogadores reservas

vai o amor para o campo e busca o cheiro de rosas

mas a vagina aberta de putas de bordel de terceira

atrai mais que mosca em torno de matéria podre

e o amor afunda seu destino estranho em gozos de antanho

e prazeres de cada momento o seu olho castanho mergulhado

em piscinas de ópio e danças macabras o amor é assim

e periga sempre não saber para onde vai cada passo torto que o leva

para cada homem ou cada mulher que não variam seu repertório

e dançam sempre a mesma melodia e o mesmo bater de tambores

e o amor amplia seu repertório na cama redonda de casais que não se amam

envia mensagens a todos componentes de seu grupo

dizendo que vai se suicidar às três horas da manhã bem defronte

ao palácio do governo como protesto a tudo o que sabe que não existe

e periga o amor acabar seus dias toscos como todos os que se suicidam

nas masmorras fedorentas da polícia federal se não houver quem lhe diga

que ninguém mais acredita que ele ainda seja capaz de alguma coisa

nesse mundo

e o amor

ora o amor

quem ainda acredita no amor ou na capacidade de quem quer que seja

de beijar sua boca no asfalto quente depois que ele fingir um orgasmo

e engasgar a última mensagem para todos os membros de seu grupo

nas redes antissociais do estranhamento e da bomba de hiroshima




5.5.2018


(Ilustração: Alexey Vasiliev - libélula)



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