periga o amor bater de frente logo ali no bar da esquina
com a turma da pesada e dançar um funk ou um blues etílico
e acabar destroçado num show de rock num estádio de futebol
periga o amor acabar quadrado numa cama de motel
entre espelhos de cristal vagabundo tomando uísque falsificado no paraguai
cheirando calcinha ou usando cuecas transparentes
calmo o amor nunca foi em sua ânsia de poder e foder
mas periga agora sentir o peso do passado podre
e acabar à deriva num bote em plena preamar
e à luz do luar dançar pular gozar um cancã
como se nunca houvesse mais o tal amanhã
chega o amor para destronar o rei
e encontra o rei jogando pelada na várzea
a coroa debaixo do banco dos jogadores reservas
vai o amor para o campo e busca o cheiro de rosas
mas a vagina aberta de putas de bordel de terceira
atrai mais que mosca em torno de matéria podre
e o amor afunda seu destino estranho em gozos de antanho
e prazeres de cada momento o seu olho castanho mergulhado
em piscinas de ópio e danças macabras o amor é assim
e periga sempre não saber para onde vai cada passo torto que o leva
para cada homem ou cada mulher que não variam seu repertório
e dançam sempre a mesma melodia e o mesmo bater de tambores
e o amor amplia seu repertório na cama redonda de casais que não se amam
envia mensagens a todos componentes de seu grupo
dizendo que vai se suicidar às três horas da manhã bem defronte
ao palácio do governo como protesto a tudo o que sabe que não existe
e periga o amor acabar seus dias toscos como todos os que se suicidam
nas masmorras fedorentas da polícia federal se não houver quem lhe diga
que ninguém mais acredita que ele ainda seja capaz de alguma coisa
nesse mundo
e o amor
ora o amor
quem ainda acredita no amor ou na capacidade de quem quer que seja
de beijar sua boca no asfalto quente depois que ele fingir um orgasmo
e engasgar a última mensagem para todos os membros de seu grupo
nas redes antissociais do estranhamento e da bomba de hiroshima
5.5.2018
(Ilustração: Alexey Vasiliev - libélula)
Nenhum comentário:
Postar um comentário