como são frágeis as asas da liberdade
a voar sobre operários e camponeses
qualquer aragem que sopre da boca dos malditos
faz que ela caia e arrebente com todas as lutas
soltamo-la à liberdade de nossas gaiolas e de nossas gargantas
não conseguimos no entanto manter o seu voo de fênix
e se a vemos como fênix é para que nunca deixemos
de aquecê-la em nosso peito como aos filhos que procriamos
como são frágeis as asas da liberdade
quando a soltamos de nossas gargantas
qualquer sopro da boca de um canhão
derruba seu voo e destrói nossos sonhos
acolhemo-la à liberdade após cada voo em nossas casas
aquecemos suas asas quebradas com o fogo de nossos anseios
esperamos que se cicatrizem suas feridas e suas desesperanças
e soltamos de novo suas asas para que ela voe sobre nós
como são frágeis as asas da liberdade
depois de tantos voos e sobrevoos
as asas e os olhos feridos de traições
acendem de novo nossos corações
tantas vezes voa a frágil liberdade levada por ventos
que brotam de nossas angústias e de nossa persistência
que mil vezes esquecemos de contar nossos mortos
e enterrar nossos filhos para seguir com os olhos o seu voo
e se são frágeis as asas da liberdade
que voa e sobrevoa sobre nós
fortaleçamos nossos braços e nossa luta será
também a fênix que sempre renasce
27.4.2018
(Ilustração: Debora Arango, 1907-2005 - huelga de estudiantes)
(Ouça esse poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:
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